Título

14/09/2019

Escrito por: Mariana Borges Ferrer

Peter Medawar

Nascido em Petrópolis (RJ) em 28 de fevereiro de 1915, Peter Medawar foi um dos mais importantes cientistas e pesquisadores da área de imunologia, e seus trabalhos trouxeram melhorias irrefutáveis ao processo de transplante de órgãos e enxertos. É a única pessoa nascida no Brasil que recebeu um Prêmio Nobel.

Infância

Medawar se mudou aos 13 anos para Londres, junto com sua irmã, para cursar o ensino secundário. Estudou biologia e zoologia no Magdallen College da Universidade de Oxford. Na época de sua maioridade, ele recebia uma bolsa de apoio do Governo Britânico para exercer suas atividades como pesquisador, e chegou a trabalhar na School of Pathology como assistente de Howard Florey - ganhador do Prêmio Nobel de 1945 por seus estudos relacionados ao antibiótico penicilina.

Por estudar fora do Brasil, solicitou a intervenção do seu padrinho, então Ministro da Aeronáutica, Salgado Filho, para obter a isenção do serviço militar obrigatório. Porém, o Ministro de Guerra de Getúlio Vargas - Eurico Gaspar Dutra - não atendeu ao pleito do pesquisador, o que fez Medawar perder a cidadania brasileira e nunca fosse vinculada.

Em suas pesquisas iniciais, Medawar se dedicou à cultura de células e à regeneração de nervos periféricos. Foi o primeiro pesquisador a empregar a modelagem matemática em culturas de tecidos para análise de crescimento, morfologia e desenvolvimento celular. Logo, passou a se dedicar ao estudo das bases biológicas dos transplantes de órgãos, e a compreender o motivo de muitos deles serem rejeitados após cirurgia.

Durante a Segunda Guerra Mundial, prestou serviços a Unidade de Queimados da Glasgow Royal Infirmary. A guerra gerou muitas vítimas de queimaduras intensas devido aos bombardeios, o que era tratado com enxerção de pele. Contudo, a rejeição aos enxertos de pele era um dos principais problemas hospitalares da época. Estudando os pacientes enxertados, observou em quanto tempo o enxerto era invadido por linfócitos em cada caso, até se estabelecer o processo de rejeição. A partir disso, desenvolveu a teoria da imunidade dos transplantes, e concluiu que a rejeição é um evento condicionado pelas características biológicas do paciente, e não questão de habilidade cirúrgica, como era visto até então.

Medawar foi o pioneiro a estabelecer as bases da tolerância imunológica, o que levou a criação do soro antilinfocitário, para combater os efeitos da rejeição pós-transplante. Ele também foi o primeiro a descrever as bases da imunomodulação com corticoides, o que influenciou no aumento da sobrevida dos transplantes e abriu caminho para o desenvolvimento de drogas imunossupressoras, que previnem que as células brancas sanguíneas do receptor ataquem o tecido transplantado do doador no processo da rejeição imunológica.

Por suas contribuições científicas, Medawar recebeu o Prêmio Nobel de Fisiologia de 1960 e Medicina junto com Frank Burnet. Porém, por ter perdido a cidadania brasileira, o laureado nunca foi associado ao Brasil. Ele ainda recebeu muitos outros títulos e homenagens. Recebeu o título de Sir pela rainha Elizabeth II, o título de Doutor Honoris pela Universidade do Brasil (atual UFRJ), e em sua homenagem foram criados a Medalha Peter Brian Medawar pela Academia de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (ACAMERJ) e o prêmio Medawar Prize pela The Transplantation Society, considerado o maior prêmio científico na área de transplantes de órgãos.

Peter Medawar foi nomeado o chefe do maior laboratório de investigação médica do Reino Unido em 1962, o National Institute of Medical Research, e foi o fundador e primeiro presidente da Sociedade Internacional de Transplantes. No centenário de seu nascimento, a cidade de Petrópolis criou um memorial e um pequeno museu em sua homenagem. Além disso, devido a significância do pesquisador para a ciência mundial e, principalmente, brasileira, o então ministro, Aldo Rabelo, solicitou, em diplomacia, ao Instituto Nobel para que Medawar seja reconhecido também como brasileiro, e não apenas britânico.

Além de seu brilhante trabalho como pesquisador, Medawar escreveu vários livros sobre a atividade científica e a filosofia por trás dela. Muitos destes livros nunca foram traduzidos para o português. Uma de suas obras mais famosas chama-se "Advice to a Young scientist" de 1979 (Conselhos a um jovem cientista), no qual desmistifica tabus sobre o fazer científico e oferece conselhos e compartilha suas experiências com aqueles que têm interesse ou já se dedicam a ciência. Em 1986, publicou uma autobiografia "Memoir of a Thinking Radish" (Memórias de um Rabanete Pensante), na qual relata as dificuldades de exercer suas atividades após ter tido seu primeiro AVC, em 1969, que afetou sua lucidez e sua capacidade física.

Medawar faleceu aos 72 anos, em 2 de outubro de 1987 (Londres), decorrente de outro AVC. Embora tenha passado a maior parte de sua vida na Inglaterra, o cientista afirmou que o seu retornou ao Brasil para receber o título de Doutor Honoris, em 1961, foi um dos momentos mais emocionantes de sua vida.


Referências:

  1. The Nobel Foundation 1960. Peter Medawar Biographical. Disponível em <https://www.nobelprize.org/prizes/medicine/1960/medawar/biographical/>
  2. IBRAHIM, M. Y. Homenagem da Nefrologia Brasileira a Peter Brian Medawar. Disponível em <https://www.scielo.br/pdf/jbn/v37n1/0101-2800-jbn-37-01-0007.pdf>
  3. The Transplantation Society. Awards: The Medawar Prize. Disponível em <https://www.tts.org/?option=com_content&view=article&id=17&Itemid=24>
  4. Encyclopaedia Britannica. Sir Peter B. Medawar: British zoologist. Disponível em < https://www.britannica.com/biography/Peter-Medawar>


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