Personalidades da Ciência - Tu Youyou

07/10/2019

Escrito por João Raphael Campos Alves da Silveira

Tu Youyou é uma farmacologista chinesa responsável pela descoberta de uma nova substância para o tratamento da malária, a artemisinina, que é um dos fármacos mais efetivos no combate à doença. Graças às suas descobertas, Tu foi laureada com o prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina de 2015, sendo a primeira cientista de seu país a receber tal prêmio.

Início da vida e carreira

Tu nasceu no dia 30 de dezembro de 1930, em Ningbo, na costa leste da China. Sua família sempre priorizou uma boa educação e então Tu frequentou as melhores escolas de sua região. No entanto, aos 16 anos, ela contraiu tuberculose, o que a obrigou a dar uma pausa de dois anos em seus estudos. Tal acontecimento foi o que despertou nela a vontade de seguir carreira na área médica. Então, ao terminar o ensino básico, ingressou no departamento de farmácia da Escola Médica da Universidade de Pequim. Após sua graduação, em 1955, juntou-se ao Instituto de Matéria Médica na Academia de Medicina Tradicional Chinesa. Tu Youyou participou de um curso de treinamento nos usos da medicina tradicional chinesa que forneceu a ela os fundamentos para seus estudos da aplicação da medicina tradicional de seu país no desenvolvimento de drogas modernas.

A descoberta da artemisinina

Alguns anos depois, em 1967, durante a guerra do Vietnã, Tu liderou um projeto que visava descobrir novos tratamentos para a malária. Esse estudo era de extrema importância, uma vez que os protozoários causadores da doença já apresentavam resistência a todos os outros medicamentos disponíveis na época. Utilizando como base em antigos textos médicos chineses (alguns de até mil anos antes de Cristo!) e conhecimentos populares, Tu e sua equipe buscaram plantas que seriam eficazes no tratamento da doença. Desses textos, foram coletadas mais de 2000 informações sobre plantas, animais e minerais com potencial para serem utilizados no combate à malária. Uma das plantas, Qinghao, mostrou certo efeito em inibir o parasita mas os resultados eram inconsistentes e não reproduzíveis. Ela retornou a ler então um antigo manuscrito em que dizia: "Uma mão cheia de Qinghao, imersa em dois litros de água, torcer o caldo disso e beber", isso supostamente trataria contra a doença. Tu, ao ler isso, imaginou que ao aquecer a planta para a extração dos compostos, poderia ter destruído algum componente ativo que fosse eficaz contra o protozoário.

Então, ela e sua equipe realizaram novos experimentos e, em 1971, encontraram um extrato capaz de inibir os parasitas da malária em roedores e primatas. Sendo assim, a equipe começou a produzir grandes quantidades do extrato para testes clínicos. Como o país passava por um momento turbulento em sua política e economia, muitas empresas farmacêuticas haviam fechado e, portanto, não havia suporte para que essa pesquisa seguisse. Tu e seus companheiros trabalhavam utilizando utensílios de suas casas e durante várias horas, incluindo fins de semana. Durante os estudos, havia algumas discussões em relação à toxicidade do novo composto, e para que não houvesse perda de tempo com tais discussões Tu decidiu administrar a droga em si mesma e mostrou que não houve nenhum efeito colateral. Os primeiros testes clínicos foram um sucesso. Foi aí então que o grupo de pesquisa conseguiu isolar o composto ativo do extrato da Qinghao e o nomearam de artemisinina, em junho de 1972. No entanto, Tu não pode publicar seus resultados devido à restrições na publicação de informações científicas que vigoravam na China naquela época.

Reconhecimento internacional

Apenas nos anos 80 que a informação se tornou mundialmente conhecida e no início dos anos 2000, a Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a recomendar a artemisinina para pacientes com malária no mundo todo. Tu continuou pesquisando o composto e desenvolveu também um novo fármaco para o tratamento: a dihidroartemisinina. Graças à esses avanços científicos de grande impacto na saúde mundial, Tu recebeu o prêmio Lasker-DeBakey de Pesquisa Médico-Clínica em 2011 e o Prêmio Nobel em Fisiologia e Medicina de 2015.

A malária é uma doença que acomete milhares de pessoas e ocorre principalmente em países pobres, sendo então uma doença negligenciada. A descoberta de Tu Youyou foi de extrema importância para o mundo e salvou milhões de vidas. Essa pesquisadora utilizou textos antigos como base e se ofereceu como a primeira cobaia para o estudo do fármaco. É importante destacar que Tu realizou todo esse trabalho científico sem possuir doutorado ou ter estudado fora de seu país. Isso nos mostra como realizar ciência é ainda mais simples do que imaginamos. Qualquer um pode ser cientista!


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O projeto Personalidades da Ciência, criado no Vidya Academics, visa a divulgação da contribuição de pesquisadores e pesquisadoras de todas as nacionalidades, contando um pouco sobre suas vidas pessoais e suas carreiras. Com essas histórias, queremos inspirar os leitores e trazer discussões relevantes para os dias atuais!

Tem alguma sugestão de cientista a ser abordado(a)? Nos envie pelo e-mail (academicsvidya@gmail.com) ou pela página do Facebook (https://www.facebook.com/vidyaacademics/)!


Fontes:

ROGERS, Kara. Tu Youyou, chinese scientist and phytochemist. Encyclopaedia Britannica, 2019. Disponível em: <https://www.britannica.com/biography/Tu-Youyou>. Acesso em 14 de setembro de 2019.


Tu Youyou - Biographical. NobelPrize.org. Nobel Media AB 2019. Disponível em: <https://www.nobelprize.org/prizes/medicine/2015/tu/biographical/>. Acesso em 14 de setembro de 2019.


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